Entre whisk's e cartas de baralho

18:28

A chuva batia na janela quando acordei, minha cabeça ainda doía depois daquela noite regada a álcool. Ela estava do meu lado, envolta apenas num lençol branco de seda, que dava um contraste irresistível com a sua pele alva. Pelo chão, garrafas de Whisky, cartas de baralho e peças de roupa.Tudo estava exatamente igual à última vez que estive aqui. Seu guarda roupa inutilmente grande, seu pôster do Raimundos, que sempre foi sua banda favorita, sua cama de solteiro que mal cabíamos nós dois e em cima do criado mudo o meu cigarro, que assim como a nosso desejo parece nunca se apagar. O mesmo quarto de pensão num bairro periférico que eu jurei nunca mais visitar.
Levantei-me sem que ela percebesse, recolhi minha calça, que há esse instante já estava na outra extremidade do quarto. Preparei seu café com leite, coloquei açúcar invés de adoçante apenas para irrita-la, passei geleia no seu pão e deixei tudo pronto na mesa, um banquete dos deuses comparado ao que ela estava acostumada. Coloquei minha jaqueta de couro, meus coturnos e dei uma ajeitada no cabelo, já é hora de partir. Ao segurar na maçaneta ouço aquela voz rouca:

-Quando você volta? - Disse ela sem nem abrir os olhos

Olhei-a, mas não me atrevi a falar, ela já sabia qual a resposta. Cruzei a porta e jurei, novamente, a mim mesmo que nunca mais voltaria. Mas ainda assim foi mais forte do que eu, não consegui evitar. Inexplicavelmente existe algo que me leva inconscientemente para o mesmo lugar, sem esforço algum. Tomado como uma folha ao vento sem a oportunidade de resposta ou reação, acabo me encontrando assim, a cada nova sensação de volta em seus braços. Entre seus cabelos, olhares e pernas, unificamos nosso suor para pintar um quadro colorido de incríveis desejos na nossa vida preta e branca. E por mais que eu tente desistir dela, isso vai muito além de desejo, vai além de mim mesmo. Ninfas...

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